terça-feira, 14 de outubro de 2008

Especulação

Há muito que digo que o problema dos nossos dias está no dinheiro. A falta ou o excesso dele. E agora estamos em crise mundial mais uma vez por causa dos tostões. E principalmente pela especulação que se faz dele.
Hoje em dia a sociedade está dependente do circular do dinheiro. E por isso quanto mais melhor. Mas a verdade é que não há espaço para um equilibro de win-win.
Então imaginemos:
Na mão tenho uma nota de 5€. E da nota física não consigo duplicar e transformar 5 em 10€. A matéria não se cria nem desaparece, quanto muito transforma-se. Então para conseguir duplicar os 5€ tenho que comprar algo e desse algo vender por 10€. Duplicando os iniciais 5€. Contudo será que o dinheiro duplicou mesmo? Do meu ponto de vista, talvez. Mas, de um ponto de vista global, para eu vender a 10 alguém comprou a 10. Ou seja, para eu ganhar alguém teve que perder.
Pode até nem ser uma ligação directa um para um. Pode ser um para vários. Pois dos 10 pode haver quem possa sobrevalorizar ainda mais e chegar aos 20 ou 30. Mas no final haverá sempre alguém que perde.
Exactamente o mesmo conceito se aplica ao famosos negócios em pirâmide que são proibidos por lei, volto a frisar que são proibidos pois é um factor a reter. A teoria baseia-se no facto de que enquanto houver gente a entrar por baixo da pirâmide, quem está em cima vai ganhando o dinheiro que entra. Até ao dia em que já não entra mais ninguém e inevitavelmente quem está mais em baixo da pirâmide vai sair a perder e quem está em cima vai sair a ganhar. O equilíbrio é que alguém ganhar e alguém perde.
Agora deixem-me analisar o que é a bolsa. Uma empresa tem X acções, cada uma com um Y valor. Se houver gente a dar mais do que Y por X então o valor da acção aumenta. E quem vendeu as acções fica a ganhar. Mas se não aparecer outra pessoa que compre as mesmas acções pelo mesmo preço ou por um valor a cima, então quem comprou inicialmente as acções vai sair a perder. Ou seja, as acções só têm valor se aparecer alguém para as comprar.
É por isso que a especulação foi "inventada". Especulamos sobre o valor das acções e haverá sempre gente a comprar. Tal como especulamos sobre a rentabilidade do negocio em pirâmide e haverá sempre gente a entrar. Não será a bolsa de valores e o negócio em pirâmide a mesma coisa? Não, porque um é mais do que legal e outro é ilegal.
E tal como num negócio em pirâmide, também na bolsa há limites, há um fim. A corda não estica para sempre. E vai chegar um ponto em que a bolha vai arrebentar.
Tal como está a acontecer hoje. É verdade que a crise de hoje foi despoletada pelo subprime e pela desregulamentação bancária no estados unidos. Mas a crise tinha que acontecer. A economia é cíclica de altos e baixos. E não podemos estar sempre a ganhar cada vez mais. Haverá sempre alguém a perder. Financeiramente falando:)
Para finalizar, um facto que nos toca a todos. Uma das razões para a escalada do preço do petróleo: lá está, a especulação. Mas porquê só agora? quando o barril de petróleo já se transacciona em bolsa há vários anos. Isto é um facto que achei escandaloso e não posso deixar de partilhar. Até à pouco tempo, na bolsa transaccionava-se fisicamente barris de petróleo. Ou seja, davas X pelo valor do barril e algures no mundo tinhas barris que te pertenciam. Não imediatamente, mas daqui a Y tempo, pois tipicamente negoceia-se o valor do barril que há de vir daqui a Y tempo. Mas passado esse tempo, como não o vais consumir nem queres pagar valor extra pelo transporte de um ou vários barris, de certa forma és obrigado a revende pelo preço que for. Até aqui tudo bem. É o mercado a funcionar. Agora o que alavancou a escalada dos preços foi o facto de se ter começado a transaccionar "virtualmente" o barril de petróleo sem associação directa a um barril físico. Ou seja, os compradores deixaram de serem obrigados a vender por um preço ajustado numa determinada altura. E passaram a ser livres para especular como bem entenderem. Certamente houve quem ganhou muito, mas também há quem tenha perdido à custa da especulação. Pois para alimentar uns retira-se a outros.

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