terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Perdão

Hoje é o primeiro de muitos dias do ano. E também é o Dia Mundial da Paz.
Na mensagem anual Urbi et Orbi de Natal, o papa Bento XVI falou sobre a esperança que, com a vinda do menino Jesus, a paz nos vários países que actualmente se encontram em conflitos possa ser atingida. E no último domingo do ano de 2007, a 30 de Dezembro, celebrou-se a festa da Sagrada Família.
Tudo isto para dizer que o segredo da paz, a meu ver poderá passar pela família. Porque é que mais facilmente perdoamos um irmão do que um estranho?
É na união duma família que está uma grande força. O acto de perdoar.
É essencial a comunicação para procurar soluções de um conflito, temos que ser humildes e reconhecer erros próprios. Recuar se necessário. Mas no fim há que perdoar. Sem perdão não há paz.
E é no seio da família que usufruimos de maior perdão de quem nos ama. Podemos pensar naqueles que actuam ao contrário em relação aos seus pares, aqueles que por males feitos detestam-os. Por exemplo, o caso de um pai que abandona um filho e este aprende a odia-lo. Mas estas poderão ser as excepções que confirmam a regra. Podemos ler que o filho espera tanto do seu progenitor que um mal praticado por este origina uma reacção oposta do perdão: ódio. Um dos maiores geradores de guerras. O outro provavelmente é o dinheiro. Mas desse poderemos falar no futuro próximo.

Ódio vs Perdão. Quem não perdoa, odeia. E infelizmente no mundo actual, o ódio prevalece. Os americanos atacam e matam no Médio-Oriente. A Al-Qaeda responde com atentados. A esse atentados os americanos matam mais muçulmanos em resposta. E mais atentados são realizados pelos filhos dos que pereceram. E assim se dá um ciclo de mortes, sedento de ódio. Até alguém tomar a coragem de perdoar, o ciclo não quebra. Excepto, claro, se um dos lados deixar de existir com tanto extermínio:)

Mas a paz não se aplica só em guerras. Há a paz de espírito. Só nos livramos mesmo dos males se soubermos perdoar verdadeiramente uma pessoa. E se numa discussão ocasional justificarmos com males passados, isso é indicativo que tais males não foram perdoados. Perdão inclui esquecer.
Imagina hipoteticamente que uma esposa trai o marido e que este lhe diz que lhe perdoa. Tempos depois é a vez do marido trair. Às criticas da esposa o marido responde que ela não tem razão pelo facto que ela outrora também o ter traido. Nesta situação não posso dizer que o marido perdoou a sua mulher quando esta lhe traiu. Se ambos querem mesmo resolver este conflito a bem para os dois, têm que saber perdoar verdadeiramente.
Falo neste exemplo em traições, mas a mesma ideia se aplica a qualquer situação: esquecimento de fazer algo, ofensas do momento, actos irreflectidos, etc.
Mas o fim de um conflito tem que passar necessariamente pelo perdão.
Perdoar verdadeiramente há que ter intenção para tal. Perdão é muito mais do que uma simples palavra.

Então e o que é perdoar? é considerar que quem nos faz mal, na realidade não nos quer mal e por isso não há razão para guardar rancor. Não acredito que haja alguém que me queira mal só por querer. De certeza que há quem me faz mal, mas teve as suas razões. E se não fosse por elas, já não me faria mal.
Com isto também não digo que quem têm razões, me possa fazer mal. Se essas razões forem negativas, também ele devia aprender a perdoar, pois certamente o mal que causei foi intencional. E tal como já referi noutro post anteriormente. O dar e o receber. Se não perdoamos, também não somos perdoados.

No fundo devemos pensar que no inicio do tempos, ninguém tem razões para fazer mal. Mas como condição humana por vezes fazemos coisas intencionais ou de pura sobrevivência, e acabamos por ofender o outro. Se este perdoasse retomávamos o mundo perfeito. Infelizmente tende a não acontecer.
Fundamental para perdoar é ter noção que nunca temos 100% conhecimento de factos e de acontecimentos. Longe disso, e por isso poderemos desconhecer as verdadeiras razões para que algo tenha acontecido. E acabamos por julgar sem justa causa.
Além disso também temos que recordar que uma moeda nunca tem duas fazes iguais. E por isso é necessário saber as causas e factos dos dois lados da barricada para que o conhecimento seja o mais completo.
No inicio perguntei: "Porque é que mais facilmente perdoamos um irmão do que um estranho? ". A resposta passa pelo conhecimento. Conhecemos mais o nosso irmão, nas suas intenções e razões. Com um estranho, tal como a palavra indica, desconhecemos. Por isso temos dificuldade em julgar correctamente. Temos dificuldade em perdoar no escuro.
É por isso que na família o perdão é mais forte, o conhecimento é maior, os males são esquecidos prevalecendo o amor.

Com isto não digo que a resolução de um conflito passa por perdoar tudo, só por perdoar. A resolução terá que passar necessariamente pela comunicação que falei no inicio. Mas vejo o acto de perdoar como a razão para se fabricar uma solução do problema. Isto possibilita-nos retirar ódios e rancores da equação e pensar numa solução conjunta. Pensar na verdadeira solução. Na paz.

2 comentários:

Anónimo disse...

O perdão não deve ser obtido apenas por eu dizer "perdoo-te" e senti-lo verdadeiramente quando o digo.
Tal como tu, hipoteticamente, me fizeste algo de mal, eu não posso simplesmente aceitar e esquecer. É impossível fazê-lo apenas assim. Primeiro, terás de me fazer algo de bom, para poderes equilibrar a balança. Tal não passa por me ofereceres uma viagem a Amsterdão ou à Fábrica de Chocolate, mas sim, por me mostrares o porquê de me teres feito isso e qual a tua actual posição perante o que sucedeu. Apenas com o que me deres daí, o perdão poderá, ou não, surgir da minha parte. E tal implica sinceridade da tua parte, senão, só piorará situações futuras, como no caso das traições do casal que falaste.

Não basta aprender a perdoar. Há que aprender a (merecer) ser perdoado.

"Porque é que mais facilmente perdoamos um irmão do que um estranho?" - da tua boa resposta, acrescento: perdoar ou ser perdoado por um irmão é fácil (mas não imediato), pois posso muito bem já conhecer o seu "porquê".

Perdoar a todos por tudo e por nada, é uma treta. E lá porque não te perdoei algo que me fizeste, não quer dizer que não goste de ti. Não quer dizer que não haja paz.
Os erros ou males do passado servem para nos mantermos atentos ao presente e ao futuro. Podemos perdoá-los ou não, mas esquecê-los, nunca!

Concluindo, para pensar na solução da paz, ajuda a eliminação dos ódios e rancores, mas não implica o perdão. Implica o não fazer o mesmo ao outro e aceitar viver com isso, o que pode ser o mais difícil. Se o perdão também for obtido, verdadeiramente, ainda melhor ;)


E desculpa lá se me estiquei nisto, Dani. Estou a gostar do teu blog. Continua :)

Daniel aka DnlCY disse...

Amigo Xabregas, muito me alegra ler o primeiro comentário sobre as minhas palavras, está à vontade para continuar:)
Sobre o teu conteúdo:
Eu não digo que se deva perdoar por tudo e por nada ("Com isto não digo que a resolução de um conflito passa por perdoar tudo, só por perdoar.").
De tudo o que fazemos na vida recolhemos experiências, sejam boas ou sejam más, e devemos aprender com elas. Eu quando digo que perdoar é esquecer, não falo em esquecer a experiência mas esquecer como ofensa. Não é razão para retribuirmos da mesma maneira. É sim, tal como referes e como em qualquer experiência da vida, um ensinamento para a vida, presente e futuro.
Em relação ao dizeres que a solução da paz não implica perdão. Eu continuo a considerar que implica. A paz não se aplica só em guerras "visíveis". Tu dizes que paz pode só implicar não fazer o mesmo ao outro e aceitar viver com isso, mas nessa situação não quer dizer que estejas em paz com ele. Pois se não o perdoaste, mesmo não querendo fazer-lhe mal, continuas magoado com ele. E isso afecta uma relação. É por isso mesmo que viver com isso pode ser o mais difícil, tal como referes. Não há paz.
Só umas últimas palavras sobre a questão do equilíbrio da balança. Eu não acredito que o equilibro necessite de vir necessariamente de quem ofendeu. Um filho de 2 anos rasga as calças ao pai. O pai terá que esperar que o filho retribua com um bem? O pai deve reconhecer que não é intencional o prejudicar, mas ao mesmo tempo terá é a obrigação de o ensinar a não repetir (obrigação de progenitor). O equilíbrio do dar e receber não necessita de ser bipolar, ou seja, neste caso o equilíbrio poderá vir simplesmente pelo perdão de outra pessoa em relação a ti.